sábado, 13 de junho de 2009

Ainda sobre a Saúde Mental

Atropelam-se-me as palavras na cabeça quando penso em Saúde Mental, ou melhor, em Dessaúde Mental em Portugal, porque muito há para dizer e mais ainda para fazer por um número de pacientes que tende a aumentar neste país.

Doentes ou deficientes mentais não são só aqueles que sofrem de patologias bem definidas, mas também o são os retardados que legislam sem terem noção das realidades de um mundo que não lhes toca na alma.

E então, desinstitucionaliza-se à guisa de uma falaciosa integração, que não é mais do que a desintegração na sociedade.

E assim, criam-se modelos de sonho num stock inexistente, sobrecarregam-se as IPSS's mal-subsidiadas e de parcos recursos humanos, exigindo delas infra-estruturas descabidas ou, na prática, desnecessárias e obrigam-se as famílias, que envelhecem e desfalecem, a esforços cruéis que vão muito além das suas capacidades e potencialidades.

E nada mais se faz!

E, caso seja confrontado com a enfermidade da Saúde Mental, o Estado desdramatiza a seu jeito e aponta o dedo acusador à crise que grassa. Esta sim, é o mal de todos os males, mas do qual a Saúde Mental em Portugal já padecia antes desta epidemia eclodir.

Milú Calisto Aveiro, 23 de Abril de 2009

Artigo publicado http://igualdade.bloco.org/ 24 de Abril

sábado, 9 de agosto de 2008

Agradecimento


In Diário de Aveiro, de 08 de Agosto de 2008

Um obrigado nunca é de mais a quem se empenha e se dedica aos outros em condições de trabalho longínquas de serem as ideais. Este obrigado foi pelo menino de sua mãe, mas poderia ter sido pela Rosalina, pela Maria, pelo Carlos e por tantos outros que passaram e passam momentos difíceis de sua vida num espaço exíguo e sem vistas para o horizonte.
Lamento que assim seja!
Não há muito, confessava a uma amiga que gritos há que seriam desnecessários se quem pode, não fosse tão surdo. Por isso, até acabo por ter pena de quem nos rege. São, para mim, uns “alminhas de Deus” que se ataviam em dia de romaria e que minguam o resto do ano. Sofrem estes pobres de uma doença já antiga nestas paragens, a que eu chamo de “elefanto-branquismo”. O importante é mostrar grandeza mesmo quando se está minado por um pauperismo crasso. Esbanja-se e esbanja-se e esquece-se que a Educação e a Saúde são os pilares fundamentais de uma sociedade. A crise dos tempos é desculpa para os cortes que se infligem nestas estruturas basilares, mas, em contrapartida, gasta-se a mais em prol de um desenvolvimento que, certamente, não será tão frutífero tanto quanto tem vindo a ser apregoado.
Que mais dizer?! Malha-se no ceguinho e não há maneira dele ver. Surdos, cegos e com défices de compreensão. Suponho serem estes motivos suficientes para se ter compaixão de alguém. Tal como disse à minha amiga, não sou de rezar, pois se fosse, garanto-vos que rezava pela salvação das suas almas.
Milú

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Pensar na Associação de Pais do CASCI

Será hoje apresentado à Direcção do CASCI um pedido para cedência de uma sala, onde os pais dos filhos desta CASA se possam reunir para discutir sobre a formação de uma Associação de Pais. Caso seja concedido o solicitado, a eventual reunião irá ser efectuada na próxima 3ª feira, dia 12, pelas 18h, em local a designar pela Direcção.
Contamos com a a presença de todos.

Milú

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ainda sobre o CASCI

Face à notícia publicada em 4/6/2008 no site http://www.maisilhavo.com reveladora da preocupação que os partidos da Assembleia Municipal manifestam pelas carências do CASCI, só tenho a referenciar que todos se preocupam e ninguém nada faz. Afinal tudo falta. Faltam os apoios monetários, falta por parte do Poder Político a consciência de que os jovens e adultos protegidos do CASCI também são cidadãos, e falta-nos, com grande pesar, a Drª Maria José.
Então, e agora?!! ... Ficamos só pelas preocupações? Não se reage? Deixamos morrer a obra de toda uma vida? Que se faz aos cidadãos do CASCI, vão ser também enterrados?
Chega de hipocrisias e malabarismos políticos! Se os partidos com assento na Assembleia Municipal de Ílhavo estão deveras preocupados com o CASCI, que descruzem os braços e dêem as mãos.
Eu estou convosco
Milú Calisto

Sobre o CASCI

Há uns dias atrás foram adicionados três comentários sobre esta grande Instituição num blog que já não existe. Como o teor dos comentários é deveras importante para todos os amigos do CASCI, entendi que não deviam ficar no segredo dos Deuses e nem se perderem na memória daqueles que o leram. Assim, aqui se fazem público os ditos:
Milú


De Eduardo Almeida a 1 de Agosto de 2008 às 14:10:

Um blog vazio.
Onde está o site oficial?
Onde estão os estatutos do CASCI, o número de sócios, o número de utentes, o número de funcionários, as várias valências?
E os recentes acontecimentos que têm vindo a perturbar o normal funcionamento da Instituição? Não se fala? Dos utentes do CAO, das repetidas e circulares inspecções da SS (Segurança Social) a respeito de tenebrosas faltas cometidas pela Instituição, com relevância para maus tratos a utentes?
E a ASAE e a matança do porco?
A minha solidariedade para com a educadora do Centro Infantil da Barra que se encontra doente, hospitalizada nos HUC.
E que tal uma Biografia / homenagem à sua Fundadora e Directora recentemente falecida, Dr.ª Maria José Fonseca? Para quando a justa homenagem a quem dedicou a tempo inteiro toda uma vida ao CASCI?
Não se calem! Participem.


De Milu Calisto a 2 de Agosto de 2008 às 10:53:


Senhor Almeida,
não me cabe a mim dar as respostas a algumas das suas questões. No entanto, à guisa de notas ao seu escrito adianto-lhe que as fiscalizações que o CASCI tem sido alvo, só podem ter o seu fundamento na tal denúncia à má funcionalidade da Instituição, cuja autoria procurarei saber junto das instâncias judiciais.
Esta vontade em saber dos autores de tão grande maldade tem razão de ser, porque o meu filho, Jorge Diogo, foi implicado no assunto e por arrasto os seus pais. Por isso, quero que se faça justiça. Não posso permitir que se enegreça o bom nome desta CASA só porque alguém pretendeu fazer mal à grande Senhora que foi, e que para mim e que para tantos continua a ser, a falecida Dr.ª Maria José.
Por isso, Sr. Almeida, penso que não é assim tão urgente a homenagem a esta mulher. Penso que tem conhecimento do que ela fez a uma medalha que lhe atribuíram!? A homenagem mais grandiosa com que a poderemos honrar, é lutar pela continuidade do CASCI e não deixar que alguém, e agora perdoem-me o mau-dito mas terei que o dizer, “cague e mije” na CASA que também é do meu filho.
Para mostrar o apreço que tenho ao CASCI, publicito uma carta que enviei esta Instituição após uma dessas fiscalizações.

Os pais de Jorge Diogo Calisto Rodrigues de Almeida, Maria de Lurdes e Eduardo Jorge, fazem saber que tecem o maior respeito e consideração pela Instituição, CASCI, onde se encontra internado o seu filho, a quem foi diagnosticado Autismo para além de um acentuado Atraso Mental.
O respeito e a consideração por esta Instituição é acrescida de uma franca e devota confiança. Jamais tiveram qualquer reparo a apontar a quem se prontificou a ajudá-los há já treze anos.
É ainda seu dever referir que o serviço prestado pela Instituição tem-lhes permitido cumprir as suas actividades profissionais, que seriam de todo impossíveis se não tivessem o seu apoio.
Sabendo de antemão quanto custoso é cuidar de um jovem de 20 anos, com uma estrutura física considerável e de uma extrema e incontrolável violência, só têm os seus pais que render graças ao CASCI e a todos os seus colaboradores e augurar um longo e longo futuro a esta Casa, que deveria ser o exemplo de muitas outras Instituições deste país.
Desta forma, fazem também saber que são conhecedores das estratégias aplicadas para a imobilização do Jorge Diogo, assim como do carinho e paciência que lhe são dados pelas profissionais do CASCI. Para que se saiba, adiantam ainda que igual procedimento é tido no seio da família. A violência imprevisível e incontrolável do Jorge Diogo tem limitado a qualidade de vida da sua família, ao ponto de se designarem prisioneiros de um amor e de uma vida adiada.
A agressividade do Jorge Diogo tem sido testemunhada por muitos e é do conhecimento de vários profissionais de Saúde, que espantosamente confessam a sua inacção perante o caso.
Pelo relatado e pelo grande amor ao seu filho, estes pais pedem com fervor que os amparem ajudando o Jorge Diogo que, apesar do seu ser violento, tem dado muitas mostras de que o CASCI também é a sua casa.

Ao CASCI e aos seus colaboradores
Um grande bem-hajam
Os pais do Jorge Diogo

Para quem leia esta carta, especialmente todos os empregados que eu aqui enalteço, só tenho agora a dizer que sosseguem os que têm a consciência tranquila e que se intranquilizem os que não a têm, pois se maltratam uma Senhora que tão bem sabia defender-se, mais céleres são a maltratar os filhos do CASCI que não se sabem defender.
Mílú

De Nazaré Matos a 2 de Agosto de 2008 às 12:05
Que boa surpresa! Um blog onde podemos ter acesso a informações sobre o CASCI! No entanto, subscrevo o comentário do Almeida, quando ele, atónito, se interroga sobre esse conteúdo. Será que ainda não houve tempo? Se foi essa a razão, nós esperamos, mas com alguma ansiedade, não vá o projecto cair pela raiz!
Almejo que este seja um espaço esclarecedor, onde se possa conversar sem receio de ferir susceptibilidades instaladas.
Nazaré

sábado, 2 de agosto de 2008

Conversas

"É a conversar que a gente se entende", assim o diz a expressão!

Mas será que é mesmo? Já começo a duvidar da sabedoria do nosso povo, pois quanto mais converso menos entendo. E então questiono-me : porque raio não entendo eu a conversa?

Não entendo a conversa, pura e simplesmente, porque não falo nas novelas, nem na vida dos vizinhos e nem pretendo discutir ninharias. Quando falo, falo, falo mas também escuto. E então falo no descalabro deste país e escuto sobre a mísera que grassa nesta terra. E ao falar e escutar tanta desgraça, cada vez menos entendo por que nos estamos nós a afundar tanto!

E na preocupação de saber a resposta para aclarar o meu desentendimento, entendo, desgraçadamente que a resposta está em nós, porque só falamos para o vento .

Para que o vento não leve as palavras em vão, cole-as aqui com toda a raiva, pois eu sei que tem razão.



Milú

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Por que mataram o Centro de Saúde Mental de S. Bernardo?

Algures no tempo, não muito distante, um decreto ou ordem impensada, como tantas deliberadas neste pobre país, sentenciou a morte a um espaço destinado a doentes com problemas psiquiátricos.

Onde estava eu nessa altura? Certamente longe, muito longe de saber que um dia poderia precisar dele.

O mundo que gira à nossa volta passa-nos ao lado quando o não sentimos na carne. E eu, e outros tantos como eu, deixaram fugir um abrigo que nos poderia ser útil no amanhã. E isto porque o mal dos outros é deles, e não nosso.

O amanhã chegou e então hoje rói-me na carne o mal que foi dos outros ontem.

Hoje, Aveiro precisava do Centro de Saúde Mental. Não é preciso pensar muito para chegar a essa conclusão.

Para onde foi aquela gente que ali tinha a sua guarida e o seu trabalho? Quis saber! Mas o desalento saudoso abafa as vozes daqueles que a seu tempo lá trabalharam e apenas dizem “ foram… sem qualquer apoio psicológico aqueles que de nós tanto precisavam”

Foram… foram para onde?

Toco à campainha da porta meia envidraçada do internamento de Psiquiatria do Hospital de Aveiro. Olham-me olhos perdidos neste mundo. Perdidos de si, perdidos no outro, apenas achados em mim, porque também aí tenho um bocado dos meus.

Que pensam aquelas gentes paradas de olhar vazio? Invejam-me o sol, o céu e o vento fresco desta Terra que nada tem para os ajudar. “Quando sair daqui quero ir ver o horizonte!” dizia-me o Carlos, doente neste pedaço de prisão. Eu entendi-o. Palavras que me tocaram e me fazem falar agora. O que diria o meu filho se soubesse falar? Talvez o mesmo, mas como não fala, limita-se a urrar amarrado à sua cadeira.

Dói-me muito vê-lo assim e ver os outros. Mas, infelizmente, eu sei que tem de ser assim dada a gravidade do caso. No entanto, não consigo compreender porque têm eles que estar ali emparedados, quando tão perto do Hospital existe um edifício que outrora serviu os mesmos fins e que hoje está entregue a um semi-abandono. Semi, porque a Junta de S. Bernardo tem tido o bom senso de lhe fazer limpezas regulares para não acentuar mais a sua degradação. Embora metido entre prédios seria, sem ponta de qualquer dúvida, o tal bocado de sol, de céu e de ar fresco da nossa Aveiro que dariam aos utentes desta ala do Hospital.

Apenas trinta e três camas albergam todo um distrito, só estas porque não há espaço para mais. Quantas mais não seriam necessárias? Que o digam os Técnicos! Não teria S. Bernardo a capacidade de prestar mais e melhores cuidados de saúde nesta área? Não se atenuaria a permanência dos doentes em locais hoje nada agradáveis? Não se suavizaria o trabalho dos técnicos que lidam com tão complexos casos? Novamente, que o digam os Técnicos e toda a população desta terra.

Não se iludam, procurem saber e verão que as Instituições que ajudam o deficiente / doente mental ou outros e as suas famílias estão, como diz a expressão “ a rebentar pelas costuras”. Estas Instituições lutam arduamente para sobreviver, são mal-subsidiadas e muitas vezes acusadas pelo bem que fazem. Fazem o que podem e o que não podem para ajudar aqueles que lhes batem à porta. Mas quantos mais ficam sem apoio? Muitos, muitos mesmo muitos, mais do que imaginamos e há poucas, tão poucas Instituições para os socorrer. E digo-vos muito menos haverão enquanto houver pseudo-sanomentais a passar certidões de óbito ou outro tipo de ordenanças de morte a espaços onde os nossos filhos, irmãos e outros familiares poderiam ser acolhidos depois da nossa morte ou incapacidade em os termos junto a nós.

Angustia-me o amanhã e sinto muita vergonha por só hoje tocar num assunto que poderia já ter aberto as portas a tantos que, silenciosamente, sofrem neste “cantinho à beira-mar plantado”, onde a brisa da democracia e dignidade fenece, moribunda, perante o olhar impensado e prepotente daqueles que deliberam e que também se deveriam envergonhar.


Milú

Aveiro, 22 de Julho de 2008