sábado, 2 de agosto de 2008

Conversas

"É a conversar que a gente se entende", assim o diz a expressão!

Mas será que é mesmo? Já começo a duvidar da sabedoria do nosso povo, pois quanto mais converso menos entendo. E então questiono-me : porque raio não entendo eu a conversa?

Não entendo a conversa, pura e simplesmente, porque não falo nas novelas, nem na vida dos vizinhos e nem pretendo discutir ninharias. Quando falo, falo, falo mas também escuto. E então falo no descalabro deste país e escuto sobre a mísera que grassa nesta terra. E ao falar e escutar tanta desgraça, cada vez menos entendo por que nos estamos nós a afundar tanto!

E na preocupação de saber a resposta para aclarar o meu desentendimento, entendo, desgraçadamente que a resposta está em nós, porque só falamos para o vento .

Para que o vento não leve as palavras em vão, cole-as aqui com toda a raiva, pois eu sei que tem razão.



Milú

1 comentário:

Panela de Escape disse...

Aprendi uma coisa muito interessante numa acção de formação de 3 dias, em plena serra, nas instalações do Teatro Giestas do Montemuro: que vivemos num autêntico império da palavra. A palavra domina tudo e é considerada o meio de comunicação essencial. E então, nessa dita acção de formação, dedicámo-nos, no primeiro dia e meio, à descoberta de formas alternativas de comunicação que excluíssem, é claro, a palavra. Tudo valia. Desde o gesto, ao toque, a ruídos que inventávamos, enfim, uma parafernália de estratégias que, no final - e isto é o mais relevante - permitiram que as pessoas ali presentes se aproximassem verdadeiramente e constituíssem uma espécie de comunidade entre si, muito mais aberta e disposta à mudança, ou, pelo menos, à criação da mudança.
Não digo nem proponho que nos libertemos da camisa de forças da palavra, porque a palavra, na sua génese, não existe para esse efeito, mas o facto é que, na sociedade que estamos a construir, a palavra parece, as mais das vezes, ser objecto de uma utilização completamente estéril, sendo totalmente incapaz de aproximar as pessoas e de as despertar para as coisas realmente importantes. O que fazer para mudar isto? Será que temos medo de fazer um uso frutuoso da palavra?